Durante muito tempo, quando era mais nova, morria de medo que alguém me gritasse na rua "sapatão"! Não sabia direito o que era, mas só podia ser algo muito ruim, já que era um xingamento.
Durante muito tempo me escondia e tinha pânico que no interior onde eu morava, eu fosse "a fulana é sapatão!".
Quando alguém me gritava "sapatão!", corria pra casa chorando e não adiantava casa, corrida, não tinha como me esconder de mim, não tinha pra onde ir. Descobri que o que era xingamento tinha a ver com escolhas, orientação, liberdade...
Parte das pessoas que me criticaram "viraram sapatão". Parte delas, nunca assumiram, nunca assumirão. Outra parte não entende, não aceita, não respeita, nunca entenderão.
Eu entendi! Entendida... Sim! Fui e estou cercada delas, mulheres incríveis, supercompetentes, profissionais exemplares, amigas dedicadas, mães de família, do lar por que entendem o que isso de fato significa, professoras, diretoras, artistas, médicas, domésticas, policiais, engenheiras, musicistas, enfermeiras, cantoras, estudantes, militantes, atrizes, atletas, mestres de obra... Estou cercada de sapatão, tenho muito orgulho delas!
Tenho orgulho de mim e da mulher que me tornei, tendo todas elas como espelho e referência.
Me chamem "sapatão"! Não me ofende. Não mais... Nunca mais!